Capítulo 3: Asas da Destruição
A jornada até a base foi silenciosa. O vento cortava o ar enquanto Mey e Soshi avançavam por uma trilha oculta entre montanhas sombrias. O chão rochoso rangia sob seus passos, e o céu acima estava carregado de nuvens pesadas, como se refletisse a tensão entre os dois.
Mey ainda sentia o impacto da batalha anterior. O rastro de destruição deixado por Soshi era inegável. Mas agora, ao seu lado, ele parecia mais calmo — ainda perigoso, mas consciente.
Quando finalmente chegaram à entrada da base, Mey parou ao ver algo inesperado.
Três armaduras estavam expostas diante deles.
Elas não eram apenas equipamentos de combate. Cada uma exalava uma presença única, como se guardassem histórias esquecidas.
A primeira armadura era negra como a noite, com detalhes carmesins que pulsavam levemente, como se fossem veias vivas. Sua presença era sufocante, carregada de uma energia destrutiva.
A segunda era prateada, refletindo qualquer luz que tocasse sua superfície. Em seu peito, um símbolo antigo brilhava com uma energia celestial. Diferente da primeira, essa armadura exalava serenidade, como se tivesse sido criada para equilibrar o caos.
A terceira, no entanto, era diferente. Seu metal azul-escuro lembrava escamas de dragão, e pequenos fragmentos de cristal estavam embutidos ao longo de seus membros, dando-lhe um brilho místico. Seu design era menos imponente que os outros dois, mas ainda assim possuía algo intrigante.
Mey franziu a testa ao observá-la. Havia algo nela que a fazia se destacar.
— E essa? — perguntou, tocando levemente a armadura.
Soshi desviou o olhar por um instante antes de responder.
— Algo que ainda não está pronto.
Mey percebeu que ele não queria falar mais sobre aquilo, então decidiu não insistir.
Ele então deu um passo à frente.
— Vamos. Nosso treinamento começa agora.
Mey seguiu Soshi por um corredor oculto atrás das armaduras. A escadaria era íngreme e escura, iluminada apenas por tochas esverdeadas presas às paredes.
Quando chegaram ao fim da escadaria, ela finalmente viu o que Soshi chamava de base.
Era uma arena subterrânea imensa.
O solo era reforçado, as paredes marcadas por rachaduras antigas, lembranças de incontáveis batalhas travadas ali. No centro, havia um círculo de pedra, como um campo de combate pronto para ser usado.
Soshi parou no meio da arena e virou-se para Mey, seus olhos determinados.
— Preciso da sua ajuda.
Mey ergueu uma sobrancelha.
— Para quê?
Ele respirou fundo, fechando os olhos por um instante antes de encará-la novamente.
— Quero entender meus poderes.
Ele pressionou um botão em seu pulso, e uma armadura surgiu ao redor de seu corpo. Diferente das três que estavam na entrada, essa parecia feita sob medida para ele, equipada com sensores e mecanismos para analisar cada movimento.
Mey cruzou os braços, observando-o.
— Você quer que eu te ataque?
Soshi assentiu.
— Sem segurar nada.
Mey sorriu.
— Tudo bem. Mas não reclame depois.
A tensão preencheu o ambiente. Eles se encararam por um breve momento antes de se lançarem um contra o outro.
O silêncio foi quebrado pelo som dos pés de Soshi avançando contra Mey. Sua velocidade era absurda, e a armadura amplificava cada movimento, tornando-o um borrão de pura agressividade.
Mey, no entanto, já esperava o ataque. Com sua experiência em combate e sua herança dracônica, ela sentiu o fluxo da batalha antes mesmo de começar. No instante em que Soshi lançou um soco devastador, ela desviou com um giro preciso, sentindo o vento cortante do golpe passar rente ao seu rosto.
A força do impacto rachou o chão, espalhando destroços ao redor. Mas Soshi não parou. Ele girou o corpo no ar, transformando o movimento em um chute giratório que foi direto na lateral de Mey. Dessa vez, ela bloqueou, mas o impacto a fez deslizar alguns metros para trás.
— Nada mal — murmurou ela, seus olhos brilhando com excitação.
Antes que pudesse reagir, Soshi pressionou um botão na lateral da armadura. As placas de metal ao longo de seus braços se reorganizaram, formando lâminas afiadas, e ele disparou novamente.
Mey saltou, evitando um corte certeiro que teria rasgado sua pele. Mas no momento em que ela tentou recuar, Soshi girou no ar e lançou uma onda de energia cortante na direção dela.
Sem saída, Mey rugiu.
Escamas começaram a surgir em seu corpo, seus olhos brilharam com um tom dourado intenso, e suas unhas se tornaram garras afiadas. Ela abriu as asas e, com um único bater, desviou da lâmina de energia, avançando contra Soshi.
Agora era ela quem atacava.
Soshi mal teve tempo de reagir antes que Mey desferisse um golpe feroz contra ele, acertando seu peito com força suficiente para lançá-lo contra uma das paredes da arena. O impacto criou uma cratera, poeira e pedras caindo ao redor.
Por um instante, o silêncio voltou a reinar.
Mey pousou no chão com suavidade, observando atentamente a poeira se dissipar.
De repente, um brilho vermelho intenso rompeu a névoa de destroços.
— De novo... — a voz de Soshi ecoou pela arena.
Quando a poeira baixou, ele estava de pé, seus olhos brilhando de maneira anormal.
Mey sentiu um arrepio.
A aura de Soshi estava mudando. Sua armadura parecia estar absorvendo algo, pulsando com um brilho sinistro. Sua respiração estava pesada, os punhos cerrados.
— O que você está tentando fazer? — perguntou Mey, com um tom cauteloso.
Soshi ergueu a cabeça e, por um momento, um sorriso surgiu em seu rosto.
— Entender até onde posso chegar.
Então, ele desapareceu.
Mey mal conseguiu acompanhar. Em um piscar de olhos, Soshi surgiu atrás dela, seu punho envolto em uma energia avassaladora. Antes que pudesse reagir, o golpe a atingiu em cheio, lançando-a contra o chão com força destrutiva.
O solo rachou, tremores se espalharam pela arena.
Mey sentiu o impacto em seu corpo, mas algo estava errado. O golpe dele era diferente dos anteriores.
Mais rápido. Mais intenso. Mais... descontrolado.
Ela forçou-se a levantar, seus olhos se fixando em Soshi.
— Isso não é só um treinamento, é? — ela disse, limpando um fio de sangue do canto da boca.
Soshi não respondeu. Seus olhos estavam diferentes. A fúria dentro dele parecia maior que antes, sua respiração ofegante, como se estivesse lutando contra algo dentro de si.
Mey estreitou os olhos.
— Se você perdeu o controle, então eu vou te fazer parar.
Suas asas se abriram completamente, e um rugido dracônico ecoou pela arena.
A verdadeira luta havia começado.