Capítulo 4 —Chamas e Ira: O Despertar do Caos"
A arena tremia com o impacto dos golpes. As chamas deixadas por Mey ainda dançavam ao redor das paredes, e o chão já exibia fissuras onde os pés de Soshi haviam pressionado com força descomunal.
Soshi, suando e com a respiração ofegante, ativa a função de sobrecarga parcial da armadura. Um brilho dourado percorre as linhas do traje, que libera vapor pelas aberturas de ventilação. A tecnologia reage ao aumento repentino da energia interna, tentando acompanhar os impulsos do portador.
— Você ainda está se segurando, Mey! — ele grita, avançando com um salto que quebra o chão sob seus pés.
Mey, com os olhos em chamas e os cabelos esvoaçando como se a própria energia a envolvesse, salta para trás com leveza. Ela gira no ar e concentra poder nas mãos. Escamas surgem pelos braços e ombros. Ela não está completamente transformada, mas seu lado dracônico começa a emergir de forma instintiva.
— Se eu não me segurasse, você já estaria fora de combate — responde ela, sorrindo de forma desafiadora.
Soshi rosna e investe. Ele desfere uma sequência de socos que cria ondas de choque no ar. A armadura amplifica cada golpe, mas Mey os intercepta com precisão, desviando ou bloqueando com braços endurecidos pelas escamas.
— Sua armadura é poderosa... mas você ainda pensa como humano. — Mey crava os pés no chão e dá um soco direto no peito da armadura. O impacto joga Soshi para trás, arrastando-o por metros.
Tossindo, ele se levanta. O visor da armadura exibe alertas vermelhos — falhas na defesa frontal. Mas ele sorri.
— Isso é ótimo... Porque eu também não quero me segurar mais.
Soshi ativa o Núcleo de Sincronização Zero, uma função secreta desenvolvida com ajuda de um antigo aliado. O tempo parece desacelerar por um segundo, e a energia ao redor dele muda completamente. Seu corpo é envolto por uma aura azul-escura, e os olhos brilham em vermelho intenso. A armadura pulsa junto ao seu coração.
Ele desaparece em um instante. Mey, surpresa, mal tem tempo de se virar — Soshi reaparece ao lado dela com um chute giratório que a lança contra a parede da arena. Ela se levanta com um sorriso ainda maior.
— Agora sim, garoto...
Em resposta, ela solta um grito gutural. As escamas tomam mais de seu corpo, os olhos se tornam completamente reptilianos, e asas semi-desenvolvidas brotam em suas costas, mesmo que ainda retraídas.
— Isso não é o bastante, Soshi. Me mostra de verdade por que te escolheram pra carregar esse fardo.
Os dois avançam ao mesmo tempo. Punhos contra garras. Golpes de energia contra rajadas flamejantes. Um embate que sacode a base inteira, como se o mundo ao redor estivesse prestes a ceder.
No ápice da troca, Soshi reúne sua energia em um soco final, enquanto Mey concentra seu poder dracônico em uma explosão direta. Os ataques colidem no centro da arena, gerando uma luz intensa que engole tudo por um instante.
Quando a poeira baixa, os dois estão ajoelhados, ofegantes, suados, e sujos de fuligem, mas sorrindo.
— Tá melhorando... — diz Mey, estendendo a mão para ajudá-lo a se levantar.
Soshi aperta sua mão com força. — Eu ainda não entendo tudo... mas sei que vou conseguir.
As luzes frias da base subterrânea tremeluziam sobre o chão de aço enquanto Soshi encarava Mey. Ambos estavam feridos, mas a tensão entre eles parecia crescente. A respiração pesada de Soshi condensava no ar frio, e Mey, mesmo com escoriações, mantinha a postura firme de uma guerreira lendária. O campo de treinamento agora se assemelhava mais a um campo de batalha.
O chão ao redor já estava marcado por crateras, arranhões e faíscas, reflexo da luta intensa que ambos protagonizavam. As três armaduras que guardavam a entrada da base brilhavam à distância — dois modelos antigos de batalhas passadas e uma terceira, enigmática, construída por Soshi e um antigo amigo. Mey havia se impressionado com o design dessa última, mas agora toda a sua atenção estava no oponente à sua frente.
— Você está se contendo, Soshi. — Mey disse, sua voz baixa, mas carregada de desafio. — Não vai me vencer assim.
Soshi limpou o sangue no canto da boca e deu um sorriso de canto.
— Eu não quero te machucar. Mas se eu não liberar tudo, nunca vou controlar isso...
Ele então fechou os olhos por um instante. Um fluxo denso de energia começou a emanar de seu corpo. A armadura que usava começou a reagir, suas partes vibrando conforme sensores internos se ajustavam ao aumento de poder.
— Modo de Supressão quebrado. — anunciou a voz artificial da armadura. — Acesso ao Núcleo Liberado.
As linhas da armadura começaram a brilhar em vermelho vivo. A pressão no ar aumentou. Um rugido de energia ecoou como um trovão. Mey ficou em silêncio por um momento, antes de assumir sua forma meio-dragão por completo: asas escamosas emergindo, olhos faiscando em dourado, garras afiadas substituindo suas mãos.
— Então vamos ver até onde você aguenta, Soshi!
Eles se chocaram como dois meteoros colidindo. O impacto gerou uma onda de choque tão forte que rachaduras surgiram nas paredes reforçadas da arena. Soshi, mais rápido, tentou surpreendê-la com uma série de socos velozes. Mey desviava com maestria, revidando com chutes circulares e golpes com suas asas, que ele mal conseguia prever.
Soshi ativou os propulsores da armadura nas pernas, impulsionando-se para cima. Ele então lançou rajadas de energia concentradas pelas palmas das mãos, enquanto girava no ar para dificultar a leitura de seus movimentos. Mey ergueu uma barreira de energia dracônica, absorvendo os impactos e canalizando-os em uma rajada de calor de sua boca — um sopro flamejante dourado que cortava o ar como uma lança.
A armadura alertou Soshi sobre a temperatura e ele se jogou ao chão, rolando no último instante. Parte do chão foi derretida. Ele se levantou num pulo, com a armadura liberando vapor.
— Temperatura interna no limite. Componentes em sobrecarga. — alertou a IA.
— Não importa. — Soshi murmurou. — Eu preciso ir além.
Ele então abriu o compartimento do peito da armadura, revelando um núcleo instável de energia comprimida — uma peça experimental criada por ele mesmo, algo que nem Mey conhecia. A ativação dessa função forçou o corpo de Soshi ao extremo. Seus movimentos ficaram ainda mais rápidos, e sua força parecia dobrada. Ele acertou um soco direto no abdômen de Mey, que recuou pela primeira vez.
Sangue escorreu da boca dela, mas ela sorriu.
— Agora sim...
Ela então bateu as asas e voou em alta velocidade, girando no ar e descendo com um golpe de garra que cortou o ombro de Soshi. A armadura se rompeu na lateral. A luta se tornou mais brutal, com golpes trocados a cada segundo. Não havia mais hesitação, apenas dois seres tentando romper seus próprios limites.
Soshi começou a canalizar a energia do núcleo nos braços, concentrando-a em um ataque chamado "Estilhaço do Vazio" — uma técnica de ruptura que desestabilizava a energia ao redor, criando um vácuo temporário que anulava qualquer defesa. Mey reconheceu o perigo e recuou, mas não o suficiente.
Quando Soshi lançou o ataque, a arena explodiu parcialmente. Uma nuvem densa de poeira encobriu tudo. Quando se dissipou, Mey estava ajoelhada, com parte da asa ferida e uma expressão de respeito no rosto.
— Isso... foi um golpe de verdade.
Soshi estava ofegante, ajoelhado também, com a armadura quase destruída. A energia do núcleo estava instável, prestes a colapsar. Mey se aproximou lentamente, ignorando os próprios ferimentos, e ergueu o braço.
— Acabou. — disse ela. — Você venceu... se não parar agora, vai morrer.
Mas Soshi sorriu. Não de arrogância, mas de alívio.
— Não. Eu só comecei a entender...
Nesse instante, o núcleo brilhou intensamente, e uma explosão de luz envolveu tudo.
Quando a luz cessou, Soshi estava desmaiado nos braços de Mey. A armadura se desfez em partículas, e a arena, em ruínas.
— Você finalmente entendeu quem é... — sussurrou Mey. — Mas ainda não entendeu o que carrega dentro de si...
Ela o carregou até fora da arena, passando pelas armaduras sentinelas, que agora pareciam olhar para Soshi com respeito silencioso. A batalha havia terminado, mas o verdadeiro conflito interno dele... estava apenas começando.