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Chapter 6 - Capítulo 6 – O Despertar do Apóstolo da Ira

Capítulo 6 – O Despertar do Apóstolo da Ira

O som de passos ecoava pelos corredores vazios da base, quebrando o silêncio opressor que tomava conta daquele lugar isolado. Soshi caminhava com uma leveza estranha, como se os próprios passos fossem pesados demais para ele. O peso da luta ainda estava em seu corpo — os músculos dormentes, a respiração irregular — mas algo mais havia se instalado dentro dele, algo que ele ainda não conseguia entender.

As marcas negras e escarlates no seu braço pulsavam, quase como se quisessem se expandir para além dos limites da pele. A dor era suportável, mas a sensação que ele sentia por baixo dela era diferente. Era um poder bruto, sem controle, que agora parecia estar cada vez mais presente, mais vivo.

Ele se apressou, sentindo o suor escorrer pela testa, mas sem coragem de olhar para o seu braço novamente. Não posso deixar isso escapar na frente de todo mundo. A ideia de machucar alguém — ou pior, de perder o controle completamente — estava mais próxima do que ele imaginava. E, nesse momento, o medo de ser uma ameaça era ainda maior que o medo de se perder nesse poder.

A ala isolada da base era tudo o que ele precisava. Uma área abandonada, quase esquecida por todos. O lugar estava silencioso, as luzes piscando intermitentemente como se também estivessem à beira de um colapso. As paredes estavam cobertas por manchas de umidade e os corredores quebrados mostravam o desgaste do tempo. Era o cenário perfeito para ele se perder sem ser interrompido.

Soshi olhou ao redor, sentindo a frieza do ar. Não havia ninguém ali. Apenas ele e o silêncio pesado que preenchia cada canto do ambiente. Ele respirou fundo e deu mais um passo para dentro da sala de testes lacrada, uma velha área de treinamento que raramente era usada.

Quando fechou a porta atrás de si, sentiu uma estranha sensação de liberdade, como se tivesse finalmente escapado de algo. Mas, ao mesmo tempo, o peso das marcas em seu corpo aumentava.

Elas estavam começando a se expandir.

Ele sentiu uma dor súbita no ombro direito, onde as primeiras marcas surgiram. Elas estavam crescendo, e com elas, uma energia estranha começava a emanar, como se estivessem se alimentando de algo dentro dele. O calor da dor foi rapidamente substituído por uma onda de poder. Uma força tão intensa que ele mal conseguia respirar.

Os filetes escarlates brilharam com uma intensidade ofuscante, como se estivessem queimando de dentro para fora. As marcas se espalharam, subindo pelo seu pescoço, contornando seu tórax. A dor não era mais suportável, mas ele não podia parar. O medo e a fascinação se misturavam dentro dele.

"Eu tô me transformando em um monstro?" — ele pensou, mas antes que a ideia tivesse tempo de se enraizar em sua mente, uma sensação avassaladora de poder tomou conta dele.

Ele não sabia o que estava acontecendo, mas podia sentir. A energia se expandia, e com ela, a pressão nas suas veias parecia aumentar. Era como se estivesse sendo consumido por algo muito maior do que ele mesmo.

"Mas... essa força... é minha?"

Ele fechou os olhos, tentando resistir, mas o poder não o deixou. Ele não conseguia mais controlar as marcas. Elas estavam crescendo, se espalhando pelo seu corpo, como se tivessem uma vida própria, uma vontade própria. Soshi se sentiu impotente, perdido dentro de si mesmo, enquanto as marcas continuavam a crescer, mais e mais.

Então, em meio à dor e ao medo, algo mais aconteceu.

Soshi teve uma visão rápida, um fragmento de memória que parecia tão distante, mas ao mesmo tempo familiar. Ele viu um campo de batalha, ruínas de um lugar desconhecido. E então, uma sombra se formou, uma figura com olhos vermelhos e verdes, semelhantes aos seus. Era ele, ou melhor, o que ele poderia se tornar. A figura sorriu, uma expressão de poder e violência.

"Só você pode controlar isso", a sombra sussurrou, e antes que Soshi pudesse entender, a visão desapareceu, deixando-o mais confuso do que nunca.

A dor das marcas começou a diminuir, mas a sensação de poder em seu corpo nunca foi tão intensa. Ele estava agora diante de algo que não podia compreender totalmente, e isso o aterrorizava.

Mas, ao mesmo tempo, algo dentro dele dizia que esse poder era sua única chance de sobreviver.

Soshi se apoiou contra a parede fria, a respiração entrecortada, tentando recuperar o controle. As marcas continuavam a brilhar em seu corpo, como se estivessem vibrando com uma energia crescente, ansiosas para se expandir ainda mais. Ele podia sentir a pressão delas, como se a própria carne estivesse prestes a ceder ao poder que agora habitava seu corpo.

“Eu não posso deixar isso escapar... Não agora...” ele murmurou para si mesmo, mas sua voz soou fraca e impotente, perdida no eco do ambiente vazio.

Mas, ao invés de recuar, o poder dentro dele parecia ganhar mais força. Ele sentiu como se estivesse sendo puxado para dentro de si mesmo, como se houvesse uma corrente elétrica que o arrastava para um abismo sem fim.

Ele fechou os olhos, tentando bloquear o turbilhão de emoções que tomava conta de sua mente. O medo era real, mas havia algo mais que o deixava inquieto. Fascínio. O poder que se desdobrava dentro dele era magnífico de uma forma assustadora, e ele não sabia como lidar com isso.

— "O que... o que eu sou, afinal?" — sussurrou, mais para si mesmo do que para qualquer outra pessoa. Ele sentia como se as respostas estivessem bem ali, à sua frente, mas não conseguisse alcançá-las.

As marcas começaram a se mover por seu corpo novamente, subindo até seu pescoço, passando pela clavícula, como se estivessem traçando uma rota invisível pela sua pele. Ele sentiu a dor, mas ao mesmo tempo, algo em seu interior respondia ao toque do poder. Era como se as marcas soubessem exatamente o que ele precisava. E elas estavam prontas para dar aquilo a ele.

De repente, uma onda de calor percorreu sua espinha, e ele quase caiu. Mas, no mesmo instante, uma força extraordinária se manifestou. Soshi sentiu seus músculos se contraírem e se expandirem, e uma explosão de energia percorreu seus braços. Ele esticou as mãos, os dedos se contraindo involuntariamente, como se algo dentro dele estivesse pronto para explodir.

O poder. Ele não podia mais negá-lo. As marcas pulsavam como se estivessem vivas, como se quisessem se libertar, e ele sentiu a presença delas em cada célula do seu corpo. Ele estava se transformando, e não sabia como parar.

O medo surgiu novamente, mais forte dessa vez. O que aconteceria se ele perdesse o controle? O que aconteceria se essa força destruísse tudo ao seu redor, todos aqueles que ele tentava proteger? Ele não queria ser uma ameaça. Ele não queria ser um monstro.

Mas as visões, as memórias, tudo isso estava se intensificando. Ele viu flashes de uma batalha sangrenta, uma guerra onde ele não estava apenas lutando por sua vida, mas por algo muito maior, algo que o ultrapassava. Ele se viu em um campo devastado, com os olhos vermelhos e verdes brilhando como as marcas em sua pele.

Era ele. Mas não era mais o mesmo.

Ele viu o futuro de si mesmo, uma versão mais forte, mais implacável. As marcas não eram apenas um fardo. Eram uma fonte de poder incontrolável, mas ao mesmo tempo, eram parte dele.

Soshi abriu os olhos, agora mais clareados, mais focados. Ele não sabia o que aquilo significava, mas não poderia mais fugir.

Ele tentou se mover, tentando controlar a onda de energia que ainda pulsava dentro dele. Quando levantou a mão, o ar ao seu redor parecia vibrar, como se fosse afetado pela intensidade das suas emoções. Ele fechou os punhos, os músculos tensos, enquanto uma onda de calor emanava de seu corpo, fazendo o ambiente ao seu redor estremecer.

Ele estava no limite. Se fosse dar o próximo passo, seria irreversível. A linha entre o controle e o caos era tênue, e ele sabia que, se cruzasse essa linha, não haveria volta.

Mas algo dentro dele o empurrou para frente. Talvez fosse a necessidade de entender quem ele realmente era, ou talvez fosse o desejo de finalmente controlar o poder que o estava consumindo. A resposta estava diante dele, mas ele não sabia como alcançá-la.

Com um grito abafado, Soshi levantou os braços para o céu escuro da sala, como se desafiasse o próprio universo a responder a sua questão. As marcas se expandiram completamente, cobrindo quase todo o seu corpo, e uma onda de energia violenta se espalhou pela sala, fazendo as luzes piscarem intensamente.

A dor foi insuportável, mas, ao mesmo tempo, havia algo de libertador nela. Ele sentiu que o poder era dele agora, que ele estava finalmente no comando. Mas, mesmo assim, o medo não o deixava. Ele sabia que o verdadeiro desafio ainda estava por vir.

A cena foi uma explosão de energia. Quando finalmente se acalmou, ele estava ali, no centro da sala, com as marcas pulsando mais fortes do que nunca. O poder agora estava estabilizado dentro dele, mas Soshi sabia que esse era apenas o começo. O que ele faria com isso? Ele não tinha ideia. Mas uma coisa era certa: nada mais seria o mesmo.

O silêncio voltou à sala isolada, mas não era mais o mesmo silêncio de antes. Agora, o ar parecia carregado, como se a atmosfera estivesse prestes a se romper. Soshi estava ali, de pé, os olhos fixos nas marcas que ainda brilhavam intensamente em seu corpo. Ele sabia que não estava mais sozinho; aquele poder, agora desperto, estava com ele, dentro dele, e ele não sabia como se livrar disso.

O medo não o deixava. Mas, por mais que tentasse, ele não conseguia mais negar a verdade: o poder era real, e ele estava se tornando mais forte a cada instante.

Ele olhou para as mãos, ainda tremendo ligeiramente. As marcas nas suas costas pareciam querer rasgar sua pele, estendendo-se cada vez mais, como se houvesse uma necessidade imensa de se expandir. A dor que ele sentia era agora uma presença constante, mas a energia era algo totalmente novo, algo que ele não tinha como compreender por completo.

"Eu... não posso deixar isso tomar conta de mim."

Mas o que ele realmente temia era a dúvida que havia começado a se infiltrar em seus pensamentos. E se eu não tivesse controle? E se isso fosse mais forte do que eu posso lidar? Ele sentia a força crescendo dentro dele, como um vulcão prestes a explodir. As marcas em seu corpo começaram a brilhar ainda mais forte, como se respondessem à sua agitação interna.

De repente, ele ouviu um som, distante, mas nítido. Passos.

O medo voltou com força total. Alguém ouviu? Seus olhos se arregalaram enquanto ele tentava se esconder no canto da sala, tentando conter as marcas que agora pareciam ganhar vida própria. A sala estava quase escura, mas as linhas vermelhas e negras que cobriam seu corpo refletiam um brilho sinistro, iluminando o ambiente de forma inquietante.

Os passos se aproximaram. O som de botas firmes ecoou pela sala, e Soshi sabia que não podia mais esconder o que estava acontecendo com ele. O poder era incontrolável, e ele não sabia o que fazer. Tentou fazer as marcas desaparecerem, mas elas estavam ali, intransigentes, pulsando com a mesma força que ele sentia dentro de si.

Antes que pudesse tomar qualquer atitude, uma figura surgiu na porta, o contorno iluminado pela luz trêmula do corredor.

— Soshi? — A voz que ecoou na sala fez Soshi congelar. Não era ninguém que ele esperava, mas ainda assim, ele reconheceu o tom. Era ele mesmo, o reflexo de sua própria mente. A figura que se aproximava era sua própria sombra, o reflexo daquilo que ele temia se tornar.

Aquela sombra era o próprio apóstolo da ira, o poder personificado.

Soshi olhou para suas mãos novamente. As marcas que cobriam seu corpo agora pareciam mais vivas do que nunca, estendendo-se com rapidez, como se tivessem vontade própria. Ele queria gritar, queria se livrar delas, mas sabia que era inútil. As marcas eram a manifestação de sua própria ira, algo que não podia mais ignorar.

O poder dentro dele estava prestes a explodir, e não havia como voltar atrás. A ira que ele sentia era um fogo que não poderia ser apagado, não com palavras, não com ações. Apenas com mais força.

Ele deu um passo para trás, afastando-se da figura que surgira em sua mente. O medo o consumia, mas, ao mesmo tempo, ele sentia uma onda de força crescendo dentro de si, uma força que o fazia sentir-se invencível.

O apóstolo da ira dentro dele sussurrou, sua voz profunda e poderosa.

— Você não pode controlar isso sozinho, Soshi. Esse poder é seu, mas você é apenas o veículo. O que você fará com ele, isso sim, define o futuro.

As marcas começaram a brilhar mais forte, quase cegantes. Soshi fechou os olhos por um momento, tentando controlar a tempestade dentro de si. Ele sabia o que precisava fazer, mas a dúvida o consumia.

Será que ele estava pronto? Será que ele poderia controlar esse poder, ou seria engolido por ele?

Mas, no fundo, Soshi sabia a resposta. Ele não tinha escolha. Ele era o apóstolo da ira, e essa força era sua para controlar, ou para destruir.

Com uma última respiração profunda, Soshi olhou para as marcas, para o poder que agora fazia parte de sua alma. Ele sentiu a ira que corria dentro dele e, em vez de fugir, ele a aceitou. Ele não seria uma vítima desse poder. Ele usaria essa força como nunca antes.

As marcas se acenderam com intensidade, e Soshi finalmente sentiu o controle. O controle de sua própria ira, que agora era mais forte do que nunca.

Ele estava pronto. O apóstolo da ira havia despertado por completo.

As luzes trêmulas piscavam no teto rachado da ala isolada. Soshi estava ali, parado no centro da antiga sala de treinamento, o corpo tomado pelas marcas negras e escarlates que pulsavam em sintonia com seu coração.

O poder — seu poder — agora era parte dele. E, mesmo aceitando, ele sabia que estava longe de controlá-lo completamente. Era como tentar segurar uma tempestade furiosa dentro do próprio peito.

Então, ele sentiu.

Uma presença.

Antes mesmo de ouvir o som dos passos, antes mesmo do eco discreto das botas tocando o chão frio e sujo, ele sentiu. Uma energia diferente, familiar.

Virando-se devagar, seus olhos cravaram na entrada da sala.

Mey.

Ela estava ali, parada na soleira da porta, com o olhar sério, os cabelos prateados meio desarrumados, talvez de tanto correr. Sua expressão era um misto de preocupação e determinação. Ela não parecia assustada — apenas tensa, como se estivesse diante de algo que entendia ser perigoso, mas que se recusava a abandonar.

As marcas no corpo de Soshi cintilaram com ainda mais força diante dela, como se reagissem instintivamente à sua aproximação. As faíscas escarlates flutuavam no ar, como brasas de um incêndio prestes a consumir tudo.

Mey respirou fundo, dando alguns passos firmes para dentro da sala.

— Soshi... — sua voz soou firme, mas suave, como quem chama uma fera selvagem pelo nome, não para confrontá-la... mas para lembrá-la de quem ela era.

Soshi cerrou os punhos, lutando contra o instinto primitivo que rugia dentro dele. Cada fibra do seu ser gritava para se afastar, para protegê-la do que ele estava se tornando. Mas, ao mesmo tempo, algo dentro dele ansiava por não estar sozinho naquela transformação.

— Fica longe... — ele disse entre dentes, a voz mais rouca do que o normal, como se o próprio poder o estivesse consumindo por dentro. — Eu... não sei o que posso fazer se você chegar mais perto...

Mey parou a poucos metros dele, sem baixar o olhar, sem recuar.

— Se fosse para fugir, eu nunca teria vindo. — Seus olhos brilhavam, determinados. — Eu sei quem você é, Soshi. E sei que você ainda está aí dentro.

As palavras dela cortaram a tensão como uma lâmina afiada.

Por um breve momento, Soshi sentiu as marcas pulsarem de forma diferente. Como se, pela primeira vez, ao invés de crescerem por fúria ou medo... elas respondessem a algo mais.

Ele caiu de joelhos, o chão trincando sob seu peso e poder descontrolado. A dor voltou, latejando em cada nervo, mas ele a suportou. Porque agora, diante da presença dela, ele não podia se permitir perder o controle.

Mey se aproximou ainda mais, ajoelhando-se em frente a ele.

Ela estendeu a mão — hesitante por um instante, mas decidida — e tocou levemente a bochecha de Soshi.

O contato fez as marcas em seu rosto vibrarem, emitindo uma luz intensa e feroz. Por um instante, parecia que tudo iria explodir. Mas então, como ondas sendo acalmadas, o poder começou a recuar. Ainda presente, ainda potente, mas sob controle.

Porque não era medo que Soshi sentia agora.

Era confiança.

E pela primeira vez desde que as marcas surgiram, ele sentiu que poderia não apenas sobreviver a elas — mas dominá-las.

— Você não precisa carregar isso sozinho — Mey sussurrou.

Soshi fechou os olhos, deixando a raiva ferver silenciosamente dentro dele... mas sem mais transbordar.

Quando abriu os olhos, ainda brilhando em um vermelho intenso, ele encarou Mey.

E, pela primeira vez, sorriu — um sorriso pequeno, quebrado, mas verdadeiro.

Ele não precisava lutar sozinho.

Não mais.